“A Escritura não pode ser compreendida sem as línguas e as línguas podem ser aprendidas somente na escola. Se os pais não podem ceder seus filhos por um dia inteiro, que os enviem por uma parte. Eu aposto que na metade da Alemanha não existem mais do que quarenta alunos na escola. Eu gostaria de saber onde iremos achar pastores e professores daqui a três anos”
Martinho Lutero
A Obra Educacional de Lutero
Dentre os Reformadores, Martinho Lutero (1483-1546) foi o que primeiro estimulou a formulação de um novo sistema educacional, por meio de impulso pessoal e político, utilizando-se de suas cartas e influência junto aos nobres alemães. Na realidade, é possível afirmar com Painter que “Embora isso não seja reconhecido geralmente, Lutero trouxe uma reforma na educação tão importante quanto a reforma na religião”, e deve ser visto como um reformador educacional que não apenas externou suas opiniões como agiu sobre as suas convicções. Lutero discernia o declínio e a ruína da educação que era oferecida (quando oferecida) às crianças nas escolas, universidades e monastérios medievais. Segundo ele, os pais não consideravam o ensino ministrado nos monastérios proveitoso para quem não desejasse ser padre, e por isso já não enviavam seus filhos à escola, antes preferiam que trabalhassem em coisas úteis para ganhar a vida.
Desde 1516 é possível encontrar referências espalhadas nos escritos de Lutero relacionadas à importância de uma educação completa e minuciosa para um povo que, segundo ele, era pobre, jovem, sem direção e instrução. Lutero escreveu também algumas obras especificamente educacionais, que demonstram a sua preocupação com a situação educacional na Alemanha. Elas evidenciam a importância que este reformador conferia à instrução dos jovens tanto para o desenvolvimento da Reforma religiosa, como para o crescimento e fortalecimento da cidade no âmbito político, econômico, social e cultural. Esse posicionamento de Lutero em suas obras e ações no campo educacional são fatores que vieram a influenciar professores, pregadores e governantes por toda a Alemanha e encorajaram muitos teólogos a considerarem o papel da educação na sociedade.
O pensamento político-educacional de Lutero é um dos aspectos estudados até hoje por ter sido ele o primeiro a deslocar da Igreja para o Estado a responsabilidade pela educação dos jovens, (CESCA, 1997), seja mantendo escolas e mestres, seja obrigando os pais a enviarem os seus filhos para a escola. Nesse sentido, mesmo escritores católicos reconhecem que a doutrina pedagógica de Lutero mostrou-se original quanto à “ênfase estabelecida sobre a missão educativa do Estado, como também, a obrigatoriedade escolar, o que para a época, constituía sem dúvida uma grande inovação” (BELLO, 1969, p. 153).
Lutero trabalhou, juntamente com seu colaborador Melânchthon (1479-1560), para a implantação da escola primária para todos, e defendia a educação universal e pública. Paul Monroe (1988, p. 178) considera o caráter tríplice do movimento educacional estabelecido por Lutero:
(…) lutava para libertar a educação, através do Estado, das peias que a Igreja viera forjando durante séculos; empenhava-se para a disseminação mais ampla das oportunidades para a educação; sustentava uma concepção mais verdadeira da função da educação na vida religiosa e secular.
A Filosofia Educacional de Lutero
O pensamento educacional de Lutero pode ser melhor estudado a partir de três de suas obras educacionais. São elas a carta Para os membros dos Conselhos de Todas as Cidades na Alemanha para que estabeleçam e mantenham Escolas Cristãs (1524); um Sermão sobre a Manutenção de Crianças na Escola (1530), publicado na forma de carta aberta, e Instruções para Supervisores em Visita às Congregações da Saxônia, uma interessante descrição da organização e do currículo proposto por Lutero para uma escola cristã. Cabe examinar alguns pontos que se destacam nestas obras.
A carta Para os membros dos Conselhos de Todas as Cidades na Alemanha para que estabeleçam e mantenham Escolas Cristãs (1524) foi escrita em resposta ao declínio das escolas eclesiásticas bem como ao sentimento anti-educacional que surgiu em vários lugares na Alemanha. Esse clima anti-educacional estava ligado à natureza da instrução oferecida pelas escolas eclesiásticas e mosteiros, considerada inútil para quem não estivesse interessado em ser oficial da Igreja. A falta de reconhecimento social dessas escolas se refletiu no decrescente número de alunos matriculados. Em vista disso, Lutero insta os leitores, convocando-os a darem a devida importância à educação dos jovens e à formação de bons professores:
Se é necessário, caros senhores, gastar anualmente grandes somas para compra de armas, estradas, represas e tantos outros itens para que uma cidade possa gozar de paz e prosperidade temporal, por que não deveríamos ao menos fazer o mesmo para a pobre e necessitada juventude, a fim de termos alguns bons e competentes professores nas escolas? (1995, p. 303)
Motivações para a educação
As motivações oferecidas para que cada cidadão considere e venha a apoiar a educação cristã são três: 1) Este é um bom e precioso investimento, em comparação com o gasto com a venda de indulgências, missas, vigílias, testamentos, comemorações, esmolas, peregrinações, etc., a que os cristão católicos estavam submetidos e haviam sido libertos pela Reforma. 2) O povo alemão não deveria desperdiçar esta oportunidade que lhe estava sendo oferecida de acesso à Palavra de Deus, de educação de qualidade em pouco tempo e incentivo à arte, pois isto era um dom da graça de Deus que a qualquer momento lhe poderia ser retirado. Como insistiu Lutero:
Temos, no presente, os mais excelentes e letrados homens, possuidores de boa linguagem e adornados com arte, que podem prestar inestimável serviço, se os usarmos como instrutores de nossos jovens. Será que não é evidente que agora temos condições de preparar um jovem em três anos e assim aos quinze ou dezoito anos este jovem terá recebido mais do que se estivesse freqüentando universidades e monastérios até agora (1995, p. 304).
E ainda 3) A educação dos jovens é mandamento de Deus, evidenciado em muitas passagens das Sagradas Escrituras, tanto no Antigo como no Novo Testamento, e assim constitui um pecado para os pais negligenciar o propósito final de suas vidas, a saber, o cuidado para com os seus filhos. Lutero expressou essa idéia de modo contundente: “Acredito firmemente que entre os pecados contra nossos semelhantes, nenhum pesa tanto contra o mundo aos olhos de Deus ou mereça tão severo castigo, quanto o pecado que cometemos contra nossos filhos por não darmos a eles adequada educação.” (1995, p.305).
Responsabilidades sobre a Educaçao
Embora Lutero considere que a responsabilidade primordial da educação dos filhos pertença aos pais, ele reconhece que existem diversas razões pelas quais os pais negligenciam seus deveres, razões que muitas vezes estão acima de si mesmos. Há pais que mesmo que tivessem a habilidade para fazê-lo, não o fariam por falta de piedade e decência. Ocorre, ainda, que a grande maioria dos pais de seu tempo não estava especificamente capacitada para este trabalho, pois eles mesmos não haviam sido adequadamente educados, faltando-lhe as habilidades para ensinar de modo apropriado. E há a situação em que, ainda que os pais fossem aptos e desejosos de educar os seus filhos, lhes faltaria tempo e oportunidade para tal, pelos seus muitos afazeres e obrigações. “A necessidade nos compele, portanto, para que tenhamos mestres e escolas públicas para nossos filhos… Isso posto, mostra portanto, que é dever dos conselheiros e magistrados devotar grande cuidado e atenção aos jovens”. (p. 4)
O historiador Paul Kienel considera importante demonstrar que colocar as igrejas e escolas debaixo do governo civil não era o plano original de Lutero. “A sua primeira escolha para as escolas cristãs era uma aliança entre os pais e as igrejas”. Mas, ao constatar a imensa apatia dos pais, o desinteresse dos líderes civis em financiar e ocuparem-se com a educação, a emergência de grupos ou partidos extremistas que começavam a questionar a necessidade da educação já que o conhecimento dependia da obra do Espírito Santo e, ainda, a falta de preparo acadêmico dos novos pastores e mestres, que em geral eram ex-padres católicos e com instrução inadequada nas doutrinas reformadas, Lutero se viu forçado a considerar uma segunda opção: uma aliança tripla entre os pais, as igrejas e o governo civil.
Assim, quando os pais negligenciam seu dever, alguém tem de assumir a responsabilidade pela educação dos jovens, e neste momento Lutero volta-se aos conselheiros e magistrados, exortando-os a assumirem esta responsabilidade e tarefa. Segundo ele, isto seria de muito bom proveito para o próprio governo civil e para o desenvolvimento da cidade:
(…) O maior patrimônio, segurança, bem estar e força de uma cidade consiste em ter muitos cidadãos instruídos, capazes, sábios, honrados e bem-educados, capazes de acumular tesouros, conservá-los e usa-los bem, levando ao bem-estar de todos na cidade. (LUTERO, 1995, p. 308).
A questão na verdade é como ter pessoas habilidosas e treinadas no governo. Com relação ao assunto, somos desafiados e envergonhados pelos ímpios, pois em tempos passados, especialmente os gregos e romanos, sem saber que isto agradava a Deus, instruíam e educavam seus filhos e filhas com tanto empenho que se tornavam realmente hábeis: tanto que me envergonho de nossos cristãos e especialmente de nós, alemães, por sermos tão completamente embrutecidos e de visão curta, que ousamos dizer: “para que servem as escolas, se não vamos nos tornar padres?” Não obstante, sabemos, ou deveríamos saber, o quanto é necessário, útil e agradável a Deus que um príncipe, senhor ou conselheiro seja instruído e capaz de viver cristãmente segundo sua condição.
E, como disse, mesmo se não existisse a alma e não fossem necessárias a escola e as línguas para conhecer as Escrituras e a Deus, todavia, para que se estabelecessem em todos os lugares as melhores escolas, tanto para meninos como para meninas, bastaria só esta razão: que o mundo, para conservar exteriormente sua propriedade temporal, precisa de homens e mulheres instruídos e capazes; de modo que os homens sejam capazes de governar adequadamente cidades e cidadãos e as mulheres capazes de dirigir e manter a casa, as crianças e os servos. Ora, homens desse tipo devem ser educados assim desde crianças, como também tais mulheres se educam assim desde pequenas. Portanto, é necessário que meninos e meninas sejam bem-educados e instruídos desde a infância”. ( LUTERO, 1995, p. 312)
Currículo, Metodologias e outras Ênfases
Lutero delineia, então, um novo tipo de escola, em que as crianças possam estudar com satisfação e prazer, aprendendo línguas, artes, história, matemática, canto, e isto os daria formidáveis habilidades para se tornarem aptos em vários campos. A que os jovens freqüentem essas escolas Lutero exorta não só a governantes como também aos pais, para que não privem seus filhos dessas escolas apenas por não quererem que seus filhos sejam tirados de seus afazeres domésticos.
Lutero esforça-se por tentar conciliar o trabalho manual produtivo com a importância do trabalho intelectual:
Minha idéia é que os meninos freqüentem essas escolas por uma ou duas horas ao dia e o tempo restante seja gasto trabalhando em casa, aprendendo uma profissão ou fazendo o que quer que seus pais desejem; para que, tanto estudo como trabalho andem de mãos dadas, enquanto eles são jovens e capazes de fazer ambos. (LUTERO, 1995, p. 313).
FABER (1998, p. 3-4) no seu comentário sobre esta carta de Lutero de 1524 ressalta ainda outro aspecto nela desenvolvido:
(…) não somente o Estado se beneficiaria de uma educação reformada, mas também – e especialmente – a Igreja. Aqui, também, Lutero defendeu o estudo da vida e da literatura antiga, pois estava convencido de que o conhecimento da antiguidade produziria crentes com uma melhor compreensão do contexto histórico, social e lingüístico da Bíblia.
Para isso, as Escrituras deveriam ser preservadas e estudadas com diligência em suas línguas originais, para que a Palavra de Deus viesse a ser um livro aberto. Encontramos ainda uma importante exortação de Lutero para que não fossem medidos esforços nem custos para a construção de boas bibliotecas, especialmente nas maiores cidades, as quais se constituiriam de uma seleção dos melhores livros, que incluiriam a Bíblia em todas as línguas existentes, os melhores comentários bíblicos, os livros que auxiliassem no aprendizado de idiomas e de gramática, os livros de artes liberais e de todas as outras artes, além de livros de direito e medicina.
Objetivo e Natureza da Educação Cristã
Outro tratado de Lutero sobre a educação é o Sermão sobre a Manutenção das Crianças na Escola, de 1530, destinada aos pregadores reformados de todo o país, aos quais deseja convencer acerca das vantagens da educação cristã para o desenvolvimento espiritual do cristão. Neste sermão, o foco recai não mais na necessidade da educação ou no incentivo ao estabelecimento de escolas, mas no desenvolvimento apropriado delas e de seus currículos. Lutero estabelece que o fundamento e o objetivo da educação é o conhecimento da Escritura, ou seja, levar as crianças a aprender mais sobre Deus e sobre suas obras no mundo criado e na história, embora reconhecendo que a educação por si própria não contribuía para a salvação e para a piedade do crente:
A corrupção da vontade humana, argumentava Lutero, é tão grande que sem a justiça de Deus ninguém pode progredir na piedade, muito menos ser salvo. Igualmente condenados diante de Deus, todos os crentes são igualmente salvos através da graça de Deus, mediante a fé na morte de Cristo – não obstante a educação. Sem o Evangelho, portanto, a educação não tem sentido. E é somente da perspectiva do Evangelho que a educação pode ser valorizada. Sobre o fundamento das Escrituras, todos os jovens deveriam buscar a educação como um meio de se tornarem homens e mulheres responsáveis, que podem governar igrejas, países, pessoas e suas casas. ( FABER, 1998, p.5).
Em resposta ao materialismo crescente entre seus compatriotas que objetivavam na educação de seus filhos apenas sua riqueza e conforto material e não o espiritual, Lutero argumenta em toda a carta quanto a real função da esfera secular e sua relação com o reino de Deus:
(…) a real função da esfera secular é (…) produzir uma sociedade ordeira, justa e pacífica na qual o estado espiritual possa ser promovido. Justiça, ordem social e a preservação da vida estão compreendidas na jurisdição do governo secular, o qual deve ser exercido por pessoas devidamente educadas para tais tarefas. Deste modo, o reino temporal promove o reino de Deus na terra, à medida que é subserviente à sua Palavra e busca melhorar a conduta de acordo com a sua vontade. Também por esta razão, “é dever da autoridade secular compelir seus súditos a manter seus filhos na escola… de forma que sempre haja pregadores, juristas, pastores, escritores, médicos, diretores de escola e outros… (256)” Afinal, no reino secular, “toda ocupação tem sua própria honra diante de Deus, bem como seus próprios requisitos e deveres (246). (FABER, 1998, p. 5).
O terceiro escrito assinado por Lutero, mas redigido por seu colaborador Melanchthon, também de grande importância educacional, encontra-se entre suas Instruções para Supervisores em visita às Congregações da Saxônia. Desta vez Lutero insiste com os pregadores, para que exortem as pessoas a enviarem seus filhos à escola, a fim de que cresçam pessoas habilitadas para o serviço de Deus nas Igrejas e no governo secular.
Divisão de Classes e Administração do Conteúdo Curricular
Ao detectar “muita falha nas escolas” (LUTERO; MELÂNCHTHON, p. 314), Lutero e Melanchthon estabelecem um programa de estudo, para que os jovens possam ser instruídos corretamente. Três orientações iniciais são dadas: a educação deve se iniciar com o ensino do Latim; as crianças não devem ser sobrecarregadas com muitos livros e com a multiplicidade de tarefas e conteúdos; as crianças devem ser dividas em grupos.
Estes grupos são chamados de Primeira, Segunda e Terceira Classe, e Lutero chega a detalhar os conteúdos e métodos a serem desenvolvidos em cada uma. A primeira classe consiste das crianças que estão começando a ler e devem aprender primeiro a ler a cartilha com o Alfabeto, Pai Nosso, Credo e outras orações, depois aumentar seu vocabulário com os versos de Cato e Donatus, e esta etapa inclui treinar a escrita, memorização de novo vocabulário, música e canto.
A segunda classe consiste das crianças que já podem ler e devem agora aprender gramática. Seu currículo inclui a música, os escritos de Esopo, Mosselanus e Erasmo, Terence, Plautus, que consistiam de fábulas e provérbios e, dentro da gramática, devem aprender etimologia, sintaxe e prosódia, nesta ordem. As atividades de sala de aula incluem interpretação de texto, leitura de livros, recitar do Pai Nosso, o Credo, os Dez Mandamentos e aprender sua interpretação com vistas ao temor do Senhor, à fé e às boas obras, memorização de Salmos fáceis e exposição gramatical ou não dos livros bíblicos mais simples. Ressalta-se sempre o cuidado para não sobrecarregar os jovens com muitos livros e conteúdos, e também com o equilíbrio entre o ensino da Palavra de Deus e o ensino de autores e disciplinas seculares, pois Lutero considera ambos importantes e complementares na formação de seus alunos, embora condenasse especialmente a filosofia grega e a influência de Aristóteles na educação de seu tempo, e por isso ele divergia de Erasmo e até certo ponto de Melânchton ao dar pouco valor à educação e ao currículo clássico.
A Terceira Classe consiste de um grupo formado com as crianças mais hábeis e que desejassem continuar seus estudos. Estas estudariam Virgílio, Ovídio, Cícero, gramática, especialmente a prosódia, onde aprenderiam a compor versos, fariam outros exercícios escritos e, dominada a gramática e o Latim, poderiam dedicar-se à dialética e à retórica.
Outros Princípios da Filosofia Educacional de Lutero
Sem dúvida, a marca da filosofia educacional de Lutero era a centralidade, a autoridade e o poder das Escrituras Sagradas também para a educação. Lutero extraía da Palavra de Deus a motivação e o incentivo para o estabelecimento de escolas e para a educação das crianças, os métodos mais apropriados, e o propósito da educação; todos eram fundamentalmente bíblicos. Assim, por um lado, Lutero era ávido por libertar a educação da autonomia da razão humana do escolasticismo medieval, e essa foi uma das características de sua reforma universitária. Lutero não via valor algum no ensino oferecido pelas universidades de então, e preferia que fossem fechadas ou transformadas em escolas cristãs a continuarem a oferecer um ensino secular e incentivarem a frouxidão moral. Ele afirmou nesse contexto:
“O que são as universidades, como presentemente ordenadas… (senão) escolas à moda grega e de maneiras pagãs, repletas de um modo de vida dissoluto, onde muito pouco é ensinado das Santas Escrituras e da fé Cristã, e onde o professor pagão cego, Aristóteles, reina ainda mais do que Cristo? E o meu conselho seria que os livros de Aristóteles, a “Física”, a Metafísica”, “Da Alma” e “Ética”, que até agora tem sido considerados os melhores, sejam de uma vez abolidos, com todos os outros que professam tratar da natureza, embora nada possa ser aprendido deles, nem de coisas naturais, nem de coisas espirituais”.
Para Lutero, “a Educaçao deveria centralizar-se na leitura, na escrita, no pensar e no estudo das Escrituras ao invés dos clássicos, e ele passou a fazer essa mudança curricular na Universidade de Wittenberg, onde encorajava debates acadêmicos com o propósito de explicitar as diferenças entre uma “teologia da cruz”, centrada em Cristo, e uma “teologia da glória”, centrada na noção da cooperação humana para a salvação. E Gritsch continua aformando que já em 1521 Agostinho havia suplantado Aristóteles na Universidade de Wittenberg, e as línguas bíblicas, o Hebraico e o Grego, eram ensinados juntamente com o Latim, e como era de se esperar, acrescenta Kittelson: “a dialética de Aristóteles, as disputas e a lei canônica foram removidas do currículo e o seu lugar foi ocupado pela retórica, gramática, as línguas antigas, e sobretudo, a Bïblia. E como resultado quase que imediato, o número de matrículas nessa universidade passou de 400 em 1513 a 2000 nos tempos de Lutero, tornando-se essa a universidade alemã mais popular.
As ênfases bíblicas e as metodologias encontradas ou inferidas das Escrituras também se tornaram marcas da educação de Lutero. Assim como a Bíblia enfatiza e o seu estudo requer o conhecimento das línguas, da gramática, da história, da música, da poesia, da lógica, da natureza e das leis matemáticas, essas áreas deveriam ter prioridade na educação. Da mesma forma, as metodologias marcadamente bíblicas, como o ensino aliado à disciplina com amor, o uso de ilustrações e a repetição, a memorização, a necessidade de compreensão das verdades de Deus e do sistema que as interliga. Esse último método levou Lutero a elaborar ele mesmo catecismos que serviriam de livros-textos nas escolas e nas igrejas para ensinar o significado e a estrutura das verdades da Palavra de Deus.
E com relação à importância da educação e do trabalho do professor, Lutero refere-se aos professores no fim de um de seus sermões. Ele diz de sua maneira própria e contundente:
“Se eu tivesse que desistir da pregação e os meus demais deveres, não há nenhum ofício que eu preferiria ter do que o de um professor de escola. Porque eu sei que depois do ministério ele é o mais útil, grandioso e melhor; e eu não sei qual dos dois é preferível. Porque é difícil fazer cachorros velhos dóceis, e rogues velhos piedosos, mas é nisso que o ministro labuta, e deve labutar, em grande parte, em vão; enquanto que árvores jovens, embora algumas possam ser quebradas no processo, são mais facilmente envergadas e treinadas. Por isso, que seja considerada uma das mais elevadas virtudes na terra o educar fielmente as crianças dos outros.”