Capítulo 7 James visita Mary na prisão

O juiz encontrou grande dificuldade para tomar uma decisão.

– Hoje é o terceiro dia ー disse ele ー e nós não tivemos nenhum progresso além do que tivemos na primeira hora. Se eu previsse qualquer possibilidade de que o anel estivesse em outras mãos, eu acreditaria que essa mocinha é inocente. Mas todas as circunstâncias caem tão claramente sobre ela. É impossível que haja outra maneira. Ela só pode ter roubado o anel.

Ele voltou à Condessa e novamente a questionou sobre as circunstâncias mais minuciosas; Juliette também foi interrogada novamente; ele passou o dia inteiro revisando o testemunho e ponderou sobre cada palavra que Mary havia pronunciado em seu testemunho. Por fim, já era tarde quando ele mandou chamar o pai de Mary da prisão para a sua casa.

ー James Rode ー ele disse ー você sabe que eu sou um homem severo, mas você me fará justiça em dizer que, embora rígido, eu não sou cruel ou injusto. Você, espero, acreditará que eu não desejo a morte de sua filha, não obstante, todas as circunstâncias provam que ela cometeu o furto e a lei requer a morte dela. O testemunho de Juliette dá completa evidência do fato. Porém, se o anel for devolvido e o dano for, assim, reparado, nós podemos garantir que Mary seja perdoada, levando em conta a sua idade. Mas, se ela ainda persistir com tamanha obstinação, em sua negação, esse excesso de perversidade pode ser a ruína dela. Vá, então, até ela, insista para que devolva o anel e eu juro que então, e só então, não será cumprida a pena de morte, mas ela será exonerada apenas para uma punição insignificante. Você é o pai dela e tem poder ilimitado sobre ela. Se você não conseguir nada, o que mais poderá ser concluído além de que você é um cúmplice e que participou do crime? E eu repito, se o anel não for encontrado, eu lamento por você.

ー Eu falarei, como o senhor deseja, com minha filha ー respondeu James ー mas, eu sei que ela não roubou o anel e que, consequentemente, ela não tem nada a confessar; e se ela deve perecer, não obstante sua inocência, é uma grande bondade que eu possa vê-la mais uma vez antes do terrível evento.

Um carcereiro foi enviado com o senhor para a prisão onde sua filha estava confinada; ele colocou uma lâmpada na prateleira de uma das quinas da parede de sua cela, onde estava um jarro de barro com água e um pedaço de pão grosso. A pobre garota ainda não tinha comido nada. Ela estava deitada na palha, seu rosto virado para a parede e ela estava cochilando, mas o som dos passos e o brilho da luz a acordou. Ela abriu seus olhos e, ao ver o seu pai, soltou um grito de felicidade e levantou-se rapidamente, o que fez as suas correntes chacoalharem. Então, quase desmaiando, ela se jogou em seu pescoço. O velho homem sentou-se com ela e a abraçou com força; ambos permaneceram em silêncio por algum tempo e derramaram suas lágrimas juntos. James quebrou o silêncio e começou a falar o que a sua missão requeria.

ー Ah! Meu pai ー disse Mary, interrompendo-o ー certamente o senhor não duvida da minha palavra, não é? Será possível que não haja ninguém, nem mesmo o meu bom pai, que acredite que eu sou inocente? Eu imploro que o senhor acredite em mim! Sim ー de fato ー eu não sou uma ladra!

ー Se acalme, minha querida filha, eu acredito firmemente em você. Eu não duvidei nem por um momento. O que eu fiz foi em submissão à ordem que recebi.

Novamente, eles ficaram em silêncio. James percebeu, com dor extrema, a mudança que poucos dias de sofrimento causaram a Mary. Ele viu que suas bochechas estavam pálidas e fundas com o pesar; seus olhos vermelhos e inchados por causa do choro; seu cabelo bagunçado.

ー Pobre menina ー disse ele ー Deus te colocou em uma provação severa, mas eu temo muito que os sofrimentos mais cruéis e mais terríveis ainda estejam por vir. Você é inocente, mas eles não vão acreditar nisso. Ah! Talvez a cabeça de minha filhinha caia sob a mão do executor.

ー Ah, meu querido pai ー disse Mary ー eu me importo muito pouco comigo mesma. Eu poderia suportar tudo que eles me infligissem, se isso lhe salvasse. Mas, o senhor…

ー Não tema por mim, minha querida filha ー disse o pai ー eu não estou em perigo.

ー Oh ー exclamou Mary, sendo elevada pela alegria e não deixando tempo para que seu pai terminasse ー se esse é o caso, meu coração está aliviado de um grande peso; está tudo bem: meu pai, tenha certeza, eu não temo a morte. Eu encontrarei com o meu Deus ー meu Salvador ー e eu verei a minha querida mãe no céu. Oh! Que alegria será!

Essas palavras penetraram o coração do velho homem e ele chorou como uma criança.

ー Bem, Deus seja louvado ー ele disse, juntando as suas mãos ー Deus seja louvado pela disposição que eu vejo em você, minha querida Mary. É difícil, sem dúvida, muito difícil, para um homem com o peso da idade, para um pai afetuoso, perder assim a sua única filha, a filha de seu amor e o seu único consolo ー o seu último tesouro na terra, a coroa e alegria de sua velhice! Contudo ー continuou ele, com a voz trêmula ー a Tua vontade, Ó Senhor, seja feita; Tu requeres um grande sacrifício, mas eu o dou alegremente. Se for agradável a Ti tomar a minha filha, eu estou decidido a fazer a Tua vontade; Tu sabes o que é melhor. E, ah, querida Mary, que Deus te fortaleça, minha filha! Que Ele te capacite a saber que a vontade dEle é melhor!

Uma torrente de lágrimas interrompeu a sua fala.

ー Mais uma coisa ー disse ele, um pouco depois ー Juliette depôs contra você. Ela declarou, em seu juramento, que ela viu o anel em suas mãos. É o testemunho dela que condena você, se você tiver que perecer. Mas, você a perdoará, não é, minha filha? Você não guarda consigo nenhum sentimento de ódio? Ah! Mesmo sobre essa cama de palha, no chão dessa cela escura, presa com correntes pesadas, você ainda é mais feliz do que ela, no palácio de seu patrão, vestida de seda e renda e cercada de atenção. É melhor morrer inocente do que viver desonrada. A perdoe Mary, como o teu Salvador perdoou aos Seus inimigos; você a perdoa?

Mary respondeu:

ー Sim, meu querido pai, eu a perdoo e tenho pena dela. Ela deve se sentir muito miserável quando pensa no que fez. Que Deus dê a ela arrependimento e mude o coração dela!

ー Bem ー disse o pai, ao ouvir o carcereiro chegando para separá-los ー eu te entrego a Deus e à Sua graça. Confie nEle, querida Mary, Ele lhe fortalecerá, e se você não me vir novamente ー se essa for a última vez que eu sou permitido falar com você, minha filha, pelo menos eu não demorarei muito a seguir você para o céu, pois eu sinto que eu não sobreviverei muito a esta partida.

O carcereiro avisou ao senhor que era necessário partir. Mary quis impedi-lo e o agarrou com seus braços com toda a sua força, mas seu pai era obrigado a se soltar o mais gentilmente que pudesse, e a beijou pela última vez, se virou e partiu rapidamente, Mary deitou-se, sem sentidos, em sua cama.

James foi trazido novamente diante do juiz. Logo que ele entrou, ele levantou as mãos para o céu e, com uma voz solene, disse:

ー Eu acredito que minha filha é inocente ー e estou pronto para confirmar isso sob juramento.

ー Eu quase acredito nisso também ー disse o juiz ー mas, infelizmente, eu não posso agir de acordo com o seu testemunho, nem com o de sua filha. Eu devo pronunciar a sentença a partir da natureza da evidência sob juramento e de acordo com o que está prescrito, mesmo no mais alto rigor da lei.

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