Capítulo 6 – O julgamento de Mary

Cedo na manhã seguinte, um carcereiro veio para conduzir Mary para o tribunal. Ela sentiu um calafrio conforme ao entrar no grande cômodo sombrio, onde a luz do dia mal adentrava pelos pequenos vitrais de uma alta janela de estilo gótico. O juiz estava sentado em uma grande cadeira elevada e coberta de escarlate, e o escrivão sentava-se à uma mesa escurecida pelo tempo. O juiz fez várias perguntas a ela e Mary as respondeu todas com a verdade requerida. Com lágrimas, Mary insistia em declarar a sua inocência.

ー Você não pode me enganar com isso, porque é impossível. Não tente me fazer acreditar nessas mentiras! Disse o juiz. Ninguém, senão você mesma, entrou no quarto. Ninguém, além de você, pode estar com o anel. Confesse de uma vez!

Com o coração palpitando, Mary respondeu com muito respeito:

ー Eu não posso dizer nada além do que já disse. Eu não estou com o anel; eu nem o vi! De fato, eu não estou com o anel.

ー O anel foi visto em suas mãos ー continuou o juiz ー o que você diz agora?

Mary insistiu que isso era impossível. O juiz então, tocou um sino e Juliette foi trazida. Juliette, ainda na crise de inveja que o vestido dado a Mary tinha causado a ela, e com o plano malvado de privar Mary do favor de sua senhora, disse a todas as pessoas do castelo que ela havia visto Mary pegar o anel. Como consequência dessa mentira, Juliette foi convocada como uma testemunha e para que não fôsse pega mentindo, ela estava determinada a manter sua mentira, mesmo que fosse numa corte de justiça. Quando ela foi convocada, o juiz exigiu que ela falasse a verdade, diante de Deus. Ela sentiu o seu coração bater mais forte e as suas pernas tremeram. Contudo, a perversa moça não ouviu nem a voz do juiz, nem a de sua consciência.

Falsa acusação

ー Se ー ela disse consigo mesma ー eu reconhecer agora que eu menti, então eu poderei ser mandada embora, ou talvez  até presa. Ela persistiu, assim, em sua mentira, e se dirigindo a Mary, disse desaforadamente:

ー Você está com o anel, eu vi você com ele. Então, olhando para o juiz, ela disse: ー Quando ela estava saindo do castelo, eu vi um anel na sua mão, ela estava olhando para ele, mas quando me viu, rapidamente o escondeu. Isso me pareceu suspeito, mas eu achei que seria melhor não dizer nada. Ela é tão favorita, eu pensei que a Condessa poderia ter dado o anel a ela; como ela já tinha lhe dado coisas antes, eu decidi não falar nada imprudentemente. Eu fico muito alegre de não ter ido ao quarto da Condessa naquela hora. Hipócritas tão maus como a Mary podem fazer com que se desconfie de pessoas honestas.

Mary ficou horrorizada ouvindo tal calúnia, mas ela não se enfureceu para conseguir ser julgada da melhor forma possível. Ela não conseguiu, contudo, conter o choro, e suas lágrimas quase sufocaram a sua fala.

ー Isso não é verdade, você não me viu com o anel. Como você pode dizer uma mentira tão terrível e assim causar a minha ruína, sem que eu tenha feito mal algum a você?

Mas Juliette ー que considerava apenas o seu próprio interesse temporal e não sentia nada além de ódio e inveja de Mary ー permaneceu imóvel. Ela repetiu a sua mentira com circunstâncias e detalhes agravantes e, então, foi dispensada pelo juiz.

ー Mary, você está condenada ー ele disse. Todas as circunstâncias estão contra você. A serva da jovem Condessa viu o anel em suas mãos; me diga o que você fez com ele.

Mary ainda afirmava que ela não estava com ele. De acordo com o cruel costume daqueles dias, o juiz a açoitou até sangrar, para forçá-la a confessar. A pobre Mary implorou e soluçou e continuou a repetir que ela era inocente, mas tudo em vão. Pálida, sangrando e exausta, ela foi novamente lançada em sua cela. Machucada pelos golpes, suas feridas a faziam sentir muita dor. Esticada numa cama de palha muito dura, ela lembrou das palavras do seu pai na sua partida: ー Quando eu estiver separado de você, se apegue mais ao seu Salvador e tenha certeza de que nenhum poder humano pode te separar Dele. Ela chorou, gemeu e orou fervorosamente a Deus, que, por fim, a fez dormir um sono doce e agradável.

No próximo dia, o juiz a trouxe de volta diante do tribunal. Como a severidade do seu castigo não tinha alcançado o objetivo desejado, ele tentou tirar dela uma confissão, através de promessas brandas e bajuladoras. ー Você incorreu em pena de morte ー ele disse ー você merece perecer pela espada da justiça; mas, confesse onde o anel está e nada será feito contra você. Pense bem nisso, a escolha entre a morte e a vida.

Ainda assim, Mary se apegava à sua inocência. As promessas dele tiveram tanto efeito quanto as suas ameaças. O juiz, observando a sua tenra afeição por seu pai, continuou: ー Se você persistir em ocultar a verdade, se não quiser poupar a sua própria vida, poupe ao menos a de seu velho pai. Você gostaria de ver a sua cabeça, embranquecida pela idade, ser cortada fora pelo executor? Pois quem, além dele, poderia ter te induzido a contar uma mentira com tanta obstinação? Você não sabe que tanto a sua vida como a dele estão em jogo?

Apavorada com a sua ameaça, Mary quase desmaiou.

ー Confesse ー disse o juiz ー que você pegou o anel. Só uma palavra, uma sílaba ー diga apenas “Sim” ー e você salvará a vida de seu pai e a sua.

Essa tentação foi enorme, e por algum tempo, Mary ficou em silêncio. Esse foi um momento de provação terrível. Satanás sugeriu que ela dissesse:

ー Eu peguei o anel, mas o perdi na estrada.

ー Não ー ela pensou depois ー não! É melhor morrer pela verdade, do que viver pela mentira. Custe o que custar para mim, eu não me afastarei da verdade, mesmo que seja para salvar a vida do meu próprio pai. Eu obedecerei a Deus e confiarei todo o resto a Ele.

Ela respondeu, então, em alta, mas trêmula voz: ー Se eu disser que estou com o anel, isso será uma mentira, e mesmo que essa mentira pudesse salvar a minha vida, eu não a diria. Contudo ー ela continuou ー se sangue precisar ser derramado, eu imploro ao senhor, poupe ao menos os cabelos brancos do meu pai virtuoso. Eu ficaria mais do que feliz em derramar o meu próprio sangue por ele.

Essas palavras tocaram os corações de todos os que estavam presentes. O próprio juiz, com toda a sua severidade, não conseguiu evitar ficar emocionado. Ele permaneceu em silêncio, e fez um sinal para que Mary fosse levada de volta para a cela.

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Um comentário sobre “Capítulo 6 – O julgamento de Mary

  1. Quando li a história de Mary, fiquei pensando no sofrimento que ela passou na prisã, dos açoites que levou e da humilhação que teve ao ser acusada injustamente… Mary não vende sua inocência por nada, ela se mantêm firme, pois sabe que sua confiança está em Deus… OBS: Confesso que estou ansiosa pelo desenrolar desta história!!!

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