Esta postagem faz parte da dissertação “Fundamentos Históricos e Filosóficos de uma Educação Bíblico-Reformada”, Parte 1: Educação Reformada: Uma Visão Histórica”. Trata-se de um breve histórico da Educação Reformada, desde as suas raízes – que remetem à vida e a obra de Cristo e da primeira igreja cristã apostólica – até uma visão panorâmica da educação reformada em diversos países no mundo atual. A segunda parte desta monografia, sobre os “Fundamentos Filosóficos da Educação Reformada” pode ser encontrada neste blog, na seção de “Filosofia da Educação”. Os capítulos sobre os Fundamentos Históricos da Educação Bíblico Reformada estarão listados dentro da seção de História da Educação, possivelmente divididos em partes menores:
CAPÍTULO 1: A PRIMEIRA EDUCAÇÃO CRISTÃ
CAPÍTULO 2: A EDUCAÇÃO RELIGIOSA REFORMADA
CAPÍTULO 3: A EDUCAÇÃO REFORMADA NO SÉCULO XVII
Post 1: Uma Perspectiva Histórica da Educação Reformada no Século XVII e a Reforma Educacional de Comênio.
Post 3: Resultados da Educação Puritana: As Escolas Clássicas Cristãs e a Fundação das Universidades (Postagem Atual)
CAPÍTULO 4: HERANÇA REFORMADA NA EDUCAÇÃO DOS PAÍSES PROTESTANTES
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O leitor que desejar usar ou citar parte deste trabalho pode fazê-lo, desde que indique os dados bibliográficos da obra, abaixo:
ANGLADA, Karis Beatriz Gueiros
Fundamentos Históricos e Filosóficos de uma Educação Bíblico-Reformada/ Karis Beatriz Gueiros Anglada.
300 f.
Monografia (graduação) – Universidade do Estado do Pará. Centro de Ciências Sociais e Educação. Belém, 2004.
Área de Concentração: Educação
Orientador: Maria Betânia Barbosa Albuquerque.
1. Educação 2. Filosofia 3. Religião Cristã/Reformada
RESULTADOS DA EDUCAÇÃO PURITANA:
AS ESCOLAS CLÁSSICAS E A FUNDAÇÃO DAS UNIVERSIDADES
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Escolas Secundárias ou Latinas preparavam os alunos para a Universidade. |
Do ponto de vista das contribuições mais concretas dos puritanos para a educação de seu tempo, é possível, a partir de fontes documentais, perceber o quanto este movimento zelava pela educação e defendia a perpetuação de escolas cristãs, em todos os níveis e lugares onde se desenvolveu.
Na Inglaterra, o número de escolas primárias dobrou enquanto os Puritanos estavam em ascendência (KNAPPEN, 1939, p. 469) [1] e o respeito pela educação foi notável especialmente no período da República de Cromwell, que além de ter sido pessoalmente responsável pelo estabelecimento de uma faculdade em Durham, também “fundou ou reabriu inúmeras escolas primárias, e também determinou que professores fossem enviados pelo país afora para assegurar as necessidades educacionais” (GREAVES, 1969, p. 15). Um moderno historiador da educação diz que “sob vários aspectos o Commonwealth [período da República instalada por Cromwell] da Inglaterra foi um período quando os estudos universitários alcançaram um ápice” (SMITH , 1954, p. 12).
Nas colônias da Nova Inglaterra, os Puritanos que emigraram para o Novo Mundo fundaram uma sociedade protestante com a liberdade que não tinham na Inglaterra. Na América, a preocupação com a educação se revelou de modo muito intenso, desde os primeiros anos do seu estabelecimento. Ali, adotou-se o conceito calvinista de que o Estado religioso deveria sustentar as escolas comuns vernáculas, as escolas secundárias de Latim e as Universidades. (CAIRNS, 1947, p. 329).
A primeira Lei da Nova Inglaterra concernente à educação data de 14 de Abril de 1642, e ordenava que os pais e mestres não negligenciassem os seus deveres na educação dos jovens na leitura e no entendimento dos princípios religiosos e nas leis do país, e para tanto os pais seriam supervisionados e penalizados se não o fizessem. (CAIRNS, 1947, p. 329)
O segundo e mais importante ato educacional da Nova Inglaterra, de 11 de Novembro de 1647 ficou conhecido como o Ato do Velho Enganador, que colocava a responsabilidade e o sustento da educação nas mãos das cidades, pelo que educação passava a ser pública e gratuita, e a leitura era enfatizada como meio para o entendimento das Escrituras. O nome desta lei deve-se à consideração nela presente de que era uma intenção do “Velho Enganador, Satanás” “impedir que os homens conheçam as Escrituras” (CAIRNS, 1947, p. 330) e, portanto, as escolas fundadas deveriam servir para que fossem destruídas as mentiras de Satanás por meio do conhecimento das verdades de Cristo. (FEDDES, 2002) Com esta lei, em cada cidade de cinqüenta famílias deveria ser estabelecida uma escola elementar mantida por pais e mestres ou com recursos públicos.
Leis semelhantes foram estabelecidas em pról da fundação de escolas para jovens em Connecticut (1650), New Haven (1655). Dessas leis se extraem os três principais objetivos da escola elementar puritana: o objetivo vocacional, pois que a criança deveria ser preparada para um trabalho útil a si e ao Estado; o religioso, que capacitava as pessoas a ler as Escrituras, com o que podiam alcançar a Salvação; e o objetivo civil, de promover a conformidade civil preparando as crianças para obedecer às leis da nação.
Da mesma forma foram criadas escolas secundárias de Gramática. A primeira escola Latina surgiu em Boston em 1635, seguida da lei que ordenava a criação de escolas de gramática em cada cidade de 100 famílias e de provisões em outras colônias para o mesmo fim. Os objetivos dessas escolas era o de preparar os jovens para a universidade através do estudo de Latim, Grego e da literatura clássica. Entretanto, também aqui, o propósito religioso era fundamental, como insta o puritano e educador americano Cotton Mather: “Mas, que em primeiro lugar, que se lhes ensine a temer o Grande Deus” (MATHER apud. RYKEN, 1992, p. 333).
Finalmente, os puritanos não se delongaram para a fundação das primeiras Universidades na América, a primeira delas fundada apenas seis anos após a sua chegada na Baía de Massachusetts; assim, a faculdade de Harvard teve início com uma doação de dinheiro e livros pelo Rev. John Harvard e foi mantida em seus primeiros anos parcialmente pelas doações de trigo feitas por fazendeiros para o sustento de alunos e professores (RYKEN, 1992, p. 167).
Um relato encontrado no famoso documento do puritanismo americano, “Os Primeiros Frutos da Nova Inglaterra” (1643), explicita os motivos da fundação da faculdade:
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Placa explicando as razões da Fundação de Harvard, tradução ao lado. |
Depois que Deus nos levara a salvo para a Nova Inglaterra, e havíamos construído nossas casas, fornecido o necessário para nossa sobrevivência, criado lugares convenientes para o culto a Deus, e estabelecido o governo civil, uma das próximas coisas que desejávamos e buscávamos era dar continuidade à aprendizagem e perpetuá-la para a posteridade, temendo deixar um ministério mal preparado às igrejas quando nossos pastores do presente jazerem no pó. (RYKEN, 1992, p. 168)
Os estudantes ministeriais em Harvard não apenas aprendiam a ler a Bíblia na sua língua original e a expor a teologia, mas também estudavam matemática, astronomia, física, botânica, química, filosofia, história e medicina, de modo que todo ensino fosse subordinado ao fim religioso e fosse utilizado precisamente para este fim. Em 1652, a tarefa da instituição foi assim resumida: “piedade, moralidade e aprendizado”, e em 1650 foram listados “o avanço de toda boa literatura, artes e ciências” e “a educação da juventude inglesa e nativa deste país no conhecimento e na piedade” (RYKEN, 1992, p. 171). O ideal pretendido para todo estudante é encontrado numa das principais normas da Universidade de Harvard:
Que todo estudante seja claramente instruído e seriamente forçado a considerar bem que o principal fim da sua vida e de seus estudos é conhecer Deus e Jesus Cristo, que é a vida eterna (Jo 17:3); e, portanto, pôr a Cristo na base, como único fundamento de todo conhecimento e sã doutrina. (RYKEN, 1992, p. 171)
A primazia das motivações e fins religiosos na fundação de universidades pode ser constatada também em atos como o da Assembléia Geral de New Haven, 1701, que pede a criação de uma faculdade onde “os jovens sejam instruídos nas artes e ciências, os quais, pelas bênçãos do Deus Todo-Poderoso, possam ser capacitados para os empregos públicos na Igreja e no Estado” (CAIRNS, 1947, p. 335). Esta veio a ser a Universidade de Yale, iniciada em 1718 com uma doação de Eliu Yale, que atendeu aos pedidos do puritano Cotton Mather.
Da mesma forma, eis o que diziam os estatutos do Emmanuel College, uma das principais faculdades puritanas da Universidade de Cambridge:
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Universidade de Cambridge |
É uma antiga instituição da igreja… que as escolas e faculdades sejam fundadas para a educação dos jovens em toda piedade e boa aprendizagem e especialmente na Sagrada Escritura e na teologia, para que sendo assim instruídos possam depois disso ensinar a verdadeira e pura religião (RYKEN, 1992, p. 172).
Quanto ao propósito central da educação a ser oferecida ali, é bastante claro:“Há três coisas as quais acima de tudo desejamos que todos os alunos desta universidade atendam, a saber, o culto a Deus, o crescimento da fé e a probidade de conduta.” (RYKEN, 1992, p. 171).
Outras universidades posteriores a essas podem ser também consideradas fruto do puritanismo e de sua ênfase no valor da erudição para a Igreja e para o Estado. Citamos a Universidade de Brown, que apesar de ser uma instituição batista, seus fundadores tinham formação puritana. E a herança puritana fez-se sentir também nas Universidade de Columbia e Princeton (FEDDES, 2002).
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Universidade deYale |
De forma resumida, portanto, pode-se caracterizar a filosofia da educação superior puritana pela preocupação com um ensino clássico e com a teologia para prover homens piedosos e treinados para a liderança na Igreja e no Governo Civil.
Essas considerações fornecem uma idéia geral do pensamento educacional e contribuições dos puritanos para a educação de seu tempo e para o desenvolvimento da fé reformada no que concerne à educação. Demonstram a grande preocupação dos puritanos com a educação e como esta preocupação se transformou em ações práticas e benefícios para a educação dos países em que o puritanismo se desenvolveu, de modo especial no período colonial americano, que pode ser visto na fundação de escolas e universidades e no seu propósito primariamente religioso. A importância do papel dos puritanos para a educação reformada consiste exatamente no fato de que sua posição educacional foi uma tentativa de desenvolver e aplicar a reforma educacional iniciada pelos primeiros reformadores, e seus esforços mostraram-se bem-sucedidos e abundantes de frutos concretos, servindo-nos de precioso exemplo e enconrajamento.
[1] A história de Foster Watson sobre as escolas de primeiro grau conclui que “as escolas de Primeiro Grau inglesas ganharam muito mais de sus vitalidade e inspiração da vida nacional, em sua mais intensa manifestação no puritanismo” (KNAPPEN, p.538-39)
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