Capítulo 4 O Anel Perdido


Mary mal havia saído do castelo quando a Confessa perdeu um elegante anel de diamante e ninguém, senão Mary, havia estado no quarto onde ela o tinha deixado, a suspeita naturalmente caiu sobre ela. A jovem Condessa estava profundamente triste com isso e rogou a sua mãe que ocupasse a perda por um tempo e permitisse que ela fosse ao chalé para persuadir Mary a devolver o anel, a fim de que ela ficasse a salvo da exposição e da desgraça.


Mary tinha acabado de dobrar seu vestido novo e colocá-lo em seu guarda-roupas quando ela ouviu passos apressados no jardim e a jovem Condessa apareceu, pálida, trêmula e quase sem ar. Mary mal podia imaginar, quando estava experimentando o lindo vestido que Amélia tinha dado a ela, que ela seria mais tarde suspeita de ser uma ladra e ficou surpresa ao contemplar a jovem Condessa entrar em seu pequeno quarto.

“Oh Mary”, exclamou Amelia, “o anel de diamante da minha mãe foi perdido e ninguém foi ao quarto senão você. Eles suspeitam de você – eles a acusam de ter pego o anel. É possível que você tenha feito isso? Se você foi tentada a fazer isso, querida Mary, devolva-o rapidamente e nada mais será dito. Ninguém nunca saberá coisa alguma sobre isso; apenas me devolva o anel”.


Mary, como bem se poderia esperar, ficou aterrorizada e pálida. Ela declarou que não tinha visto o anel, nem tocado nele, nem sequer tinha se movido do lugar onde estava sentada quando estava no quarto. 


“Mary, Mary”, disse Amelia com seriedade, “eu imploro que você me diga a verdade” e ela continuou a pedir que lhe devolvesse o anel. Ela disse que ele era de um valor muito grande e que se soubesse disso, ela nunca teria tocado no anel. “Talvez”, ela disse, “você tenha pensado que seria apenas uma brincadeira sem consequências. Oh, querida Mary,  se você o tocou, confesse e isso será perdoado, como um ato infantil e impensado”.


Com o tempo, Mary compreendeu o completo horror da suspeita que tinha caído sobre ela. Pálida como morta e se tremendo totalmente, os seus sentimentos eram profundos demais para lágrimas. “De fato, minha senhora”, ela disse, “eu não sei de qualquer coisa sobre o seu anel”. “Verdadeiramente”, disse ela, “não tenho nenhum anel. Eu nunca me atreveria a tocar aquilo que não pertence a mim, muito menos roubar. Meu querido pai sempre me ensinou a não pegar nem mesmo um alfinete que pertencesse a outra pessoa. Ah, você precisa acreditar em mim”.


Nessa hora, o senhor entrou – ele estava fazendo o seu trabalho no jardim quando viu a jovem Condessa passar rapidamente pelo jardim sozinha. Essa visita incomum e o seu olhar de alarme e pressa o fizeram suspeitar de que algo estava errado; e quando ele soube do problema, ele ficou tão impactado que foi obrigado a se segurar na ponta da mesa e afundar em uma cadeira.


“Minha querida filha”, disse o senhor, “roubar um anel desse valor é um crime, que em nosso país é punido com a morte. Mas, isso não é nada — considere o mandamento de Deus: ‘Não furtarás’. Você esqueceu do Santo mandamento de Deus? O Deus Todo-poderoso e Onisciente, que vê o coração, não pode ser enganado por mentiras ou desculpas de jeito nenhum. Você esqueceu do conselho paternal? Se você se esqueceu de Deus, minha pobre filha, a ponto de ser culpada de tal crime como o que você foi acusada; se você ficou deslumbrada com o esplendor do ouro e das pedras preciosas, oh, não aumente o seu pecado negando; confesse a sua culpa e restitua o anel – essa é a única reparação que você pode fazer. Ah, que eu nunca tivesse de falar isso a você!”.


“Meu pai”, disse Mary, chorando e soluçando, “tenha certeza, tenha muita certeza, de que eu não estou com o anel. Se eu tivesse até mesmo encontrado esse anel na rua, eu não poderia descansar até devolver a seu dono. Sim, de fato, eu não estou com o anel”.


“Olhe essa querida mocinha”, disse o senhor, “a afeição dela por você é tão grande que ela deseja te salvar da mão da justiça. Mary, seja sincera e não diga uma mentira”.


“Meu pai”, disse Mary, “o senhor sabe bem que eu nunca roubei nem um centavo. Eu nunca nem mesmo peguei uma maçã de uma macieira que não fosse a nossa ou peguei uma flor do jardim do vizinho sem permissão, como eu poderia pegar algo mais valioso? Oh, acredite em mim, porque eu nunca menti, como o senhor pode duvidar de mim?”.


“Mary”, disse o pai novamente, “olhe meus cabelos grisalhos. Ah, não deixe que eles desçam à cova com tal tristeza. Me poupe de tão grande aflição. Diga-me, diante do seu Criador — cujo reino não tem lugar para ladrões — diga-me se você pegou o anel”.


Mary levantou os olhos e da maneira mais solene afirmou a seu pai que ela era inocente.


James ainda perseverou. Ele estava ansioso para testar sua filha até ao extremo. “Minha filha”, ele disse, “não leve meus cabelos grisalhos à cova com essa tristeza. Me poupe da agonia de ver você persistir no pecado. Eu te peço solenemente, como que na presença de Deus, que vê seu coração, diante de quem você deve um dia aparecer, me diga se você está com o anel. Eu imploro que você pense bem e fale a verdade!”.


Mary levantou seus olhos, agora cheios de lágrimas, e com suas mãos juntas ela disse solenemente: “Deus é minha testemunha de que eu não estou com o anel. Ele vê meu coração. Na presença Dele eu digo ao senhor, eu estou falando a verdade. Eu não estou com o anel – eu nem mesmo o vi”.


O senhor estava convencido da inocência de sua filha. “Eu acredito em você”, ele exclamou, “você não ousaria mentir na presença de Deus e aqui diante dessa jovem Condessa e de mim mesmo. E como eu acredito na sua inocência, fique tranquila e não tema nada. Não há nada para se temer na terra a não ser o pecado. A prisão e a morte não são nada comparadas a uma consciência culpada. Se você está destinada a sofrer injustamente, se todo mundo nos abandonar, Deus não nos abandonará. O que quer que aconteça, então, coloquemos nossa confiança em Deus. Nele nós encontramos um amigo, um consolador e tudo irá bem, pois Ele diz que: “Fará sobressair a tua justiça como a luz e o teu direito, como o sol ao meio-dia”.


As lágrimas da Condessa Amélia estavam caindo rapidamente durante essas palavras. Ela as secou rapidamente e disse: “Verdadeiramente, quando eu ouço você falar dessa maneira, eu também acredito que você não está com o anel. E, ainda assim, quando eu olho para as circunstâncias, onde ele pode estar? Minha mãe sabe exatamente o lugar onde ela o colocou e nenhuma alma viva esteve lá a não ser Mary e tão logo quanto ela saiu, minha mãe perdeu o anel. Mamãe mesmo ainda o procurou em todo canto do quarto cuidadosamente, mais de uma vez. Ela não recebeu ninguém, nem eu mesma, até que ela tivesse plena certeza de que o anel não foi achado no quarto. Quem, então, poderia ter pego?”


“É impossível que eu saiba dizer isso”, respondeu James, “Deus nos enviou uma provação severa, mas, tudo bem. A vontade Dele será feita. Que Deus nos prepare; a arado foi colocado profundamente. Mas o que quer que aconteça”, disse ele, olhando para o céu, “eu estou pronto. Dá-me apenas a Tua graça, ó Deus, é tudo o que eu peço”.


“Ai”, disse a jovem Condessa, “eu retorno para o castelo com o coração pesado, de fato. Esse para mim é apenas um aniversário triste. Minha mãe ainda não falou com ninguém sobre o assunto a não ser comigo; mas não será mais possível guardar esse segredo. Ela deveria usar o anel hoje; pois meu pai, que esperamos para o almoço, perceberá imediatamente que ela está sem ele. Ele o deu a ela no dia em que eu nasci e ela nunca deixou de usá-lo em todos os aniversários seguintes. Ela acredita que eu o levaria de volta. Adeus”, continuou Amélia, “eu direi que considero você inocente, mas quem acreditará em mim?” Amélia, cheia de tristeza, saiu com os olhos cheios de lágrimas. 


O pai de Mary sentou-se numa cadeira, descansou sua cabeça sobre suas mãos, e com os olhos fixos no chão, começou a orar silenciosamente. As lágrimas caíam sobre suas bochechas enrugadas. Por muito tempo, ele ficou sentado assim – eles não sabem por quanto tempo. Quão terrível é a tristeza silenciosa e sem palavras.


Por fim, Mary se levantou e se prostrou de joelhos, onde ela encontrou alívio numa enxurrada de lágrimas. “Ah, meu querido pai, acredite em mim. Ó, fale comigo! Me deixe ouvir novamente que o senhor acredita que eu sou inocente”.


Ele a levantou gentilmente e, fixando os olhos em sua face verdadeira e confiável, ele disse: “Sim Mary, você é inocente. Esse olhar, onde a integridade e a verdade estão pintadas, não pode ser o olhar do crime”. 


“Oh, meu pai”, adicionou Mary, “qual será o fim disso? O que está nos aguardando? Se isso fosse uma ameaça só a mim, eu me submeteria sem dor, mas que o senhor, meu pai, pudesse sofrer por causa disso, é uma ideia que eu não suportaria”.


“Tenha confiança em Deus”, respondeu seu pai. “Tenha coragem; nenhum cabelo de nossa cabeça pode cair no chão sem a permissão do Senhor. Ele sabe o que é melhor. Isso será, contudo, para nosso bem, e o que mais poderíamos desejar? Não fique atemorizada, mantenha a mais pura verdade. Quando eles ameaçarem – quando eles prometerem, não se aparte da verdade, nem um pouquinho; não fira a sua consciência. Uma consciência limpa é um bom travesseiro. Sem dúvidas, seremos separados; seu pai não estará mais presente para consolar você – pense apenas em se achegar mais ao seu Pai que está no céu. Ele é um protetor poderoso da inocência e nada pode nos separar do amor de Cristo”.


De repente, a porta se abriu com um barulho. O oficial de justiça entrou, seguido por outros guardas. Mary começou a chorar e se jogou nos braços de seu pai. “Separe eles dois” disse o oficial, com seus olhos cheios de ira. “Algeme as mãos da menina e leve-a para a prisão, leve o pai sob Guarda também. Ocupem a casa e o jardim, procurem em todo lugar, não deixe ninguém entrar até que todos os lugares tenham sido vasculhados”. 


Os oficiais  prenderam Mary, que se agarrou a seu pai com toda a sua força, mas eles a arrancaram dos braços de seu pai e amarraram as suas mãos. Ela desmaiou e, nesse estado, foi levada embora. Quando eles conduziram o pai e a filha pela rua, uma multidão se ajuntou pelo caminho. A história do anel se espalhou por toda a vila, os vizinhos se amontoaram ao redor do pequeno chalé do jardineiro. Se ouvia as pessoas falando as mais diversas opiniões. Bons e caridosos como James e Mary eram, ainda assim haviam inimigos que se regozijaram na queda deles. Mary, mesmo que gentil e amável com todos, nunca tinha se misturado muito com as pessoas do vilarejo. Ocupada com as flores, com o gosto refinado pelas instruções de seu pai, ela não gostava da fofoca vulgar e tola das mulheres da vila, que por sua vez odiavam-na por sua superioridade a elas que não podiam evitar sentir, mesmo que não reconhecem isso.


O conforto que James e sua filha tinham adquirido com a força do trabalho e economia despertara muita inveja. Havia até mesmo alguns que tinham muito prazer em exercitar suas línguas maliciosas.


“Agora”, disse alguém, “nós sabemos de onde todas essas coisas boas vêm, que nós não entendíamos até agora. Se esse é o método, não é um grande mérito viver em abundância e se vestir melhor do que qualquer vizinho honesto”.


Contudo, a maioria dos habitantes de Eichbourg mostraram sincera compaixão para com James e sua filha, e muitos pais e mães diziam: “Verdadeiramente, até os melhores são passíveis de queda – quem poderia acreditar nisso sobre essas pessoas boas?”. Outros diziam: “Talvez não seja o que estamos pensando. Que a inocência deles apareça no dia do julgamento e quando ele chegar, que Deus os ajude a escapar dos terríveis males que agora estão sobre eles!”.


Muitas das crianças da vila se ajuntaram em grupos e choravam por Mary e seu pai enquanto passavam. “Ah não!”, elas diziam, “se eles os enviarem para a prisão, quem nos dará frutas e flores? É errado mandá-los para a prisão, isso não deveria ser feito”.

Triste criança, enxugue teu choro

Triste criança, enxugue teu choro

Há alguém que conhece tua dor

Alguém cuja misericórdia não falha

E deseja tua alma aliviar

Ele, teu Salvador,

Permanece fielmente, dos amigos o maior.

Triste criança, te deixaram 

Aqueles em quem suas esperanças estavam

Jesus chama e recebe a ti.

Com um amor que nunca acaba

Ouça, ele te chama,

Busque o lar para pecadores criado.

P. HUTTON

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