A EDUCAÇÃO CRISTÃ PODE OU PRECISA SER CLÁSSICA?

Esse post é parte do ensaio intitulado “Educação Clássica Cristã?” Iniciamos fornecendo aos leitores um histórico da Educação Clássica e do seu relacionamento com a Educação Cristã. Em seguida, nos propomos a fazer uma avaliação da Educação Clássica do ponto de vista cristão. A postagem anterior (ainda não leu? clique aqui) trata dos aspectos negativos da educação estritamente clássica e dos perigos e cuidados que o educador cristão deve ter ao adotar seus métodos. A postagem atual trata, mais positivamente, das possibilidades de usarmos certas ênfases e métodos clássicos, a partir de duas perguntas cruciais: “A Educação Cristã pode ser Clássica?” E “A Educação Cristã Precisa ser Clássica? ” E na próxima postagem esperamos dar ao leitor uma idéia mais prática, inclusive com listas de materiais, de como os currículos clássicos estão sendo usados por escolas e lares cristãos.

Resultado de imagem para Bible LiteratureA Educação Cristã pode ser Clássica?

Temos visto o sucesso intelectual da educação clássica. Vimos também que ela fica aquém em vários quesitos cristãos básicos e que ela apresenta perigos reais aos educadores e alunos cristãos. Isso leva naturalmente à pergunta: Os cristãos podem usar dos métodos clássicos? Vimos, no histórico apresentado, que os cristãos historicamente têm usado com proveito muitos dos métodos clássicos. A base para eles fazerem isso é o entendimento de que toda verdade procede de Deus, e o reconhecimento de que os gregos antigos descobriram e organizaram muitas verdades relacionadas ao desenvolvimento intelectual, mais do que outros antes e depois deles, razão porque sua visão das disciplinas e das artes liberais se tornaram um padrão para as escolas clássicas desde o renascimento.

De modo geral, os reformadores, e seus seguidores até hoje do ramo mais conservador entenderam que o modelo curricular que mais se aproximava do ideal bíblico seria o currículo das artes liberais ou o currículo clássico. Baseados no fato de que a educação cristã está fundamentada na existência de verdades absolutas, que o seu objetivo é o conhecimento das verdades divinas e que a verdade é algo a ser conhecido intelectualmente, os defensores dessa corrente passaram a entender que as artes liberais eram as que mais aproximavam ao estudo sistemático e organizado das verdades de Deus.

Os defensores da educação clássica dão grande valor à razão humana, e consideram esta uma parte essencial da imagem de Deus no homem. Gene Edward Veith, embora reconhecendo que “a crença cristã nunca seja meramente a função de um argumento lógico, já que depende da revelação do Espírito Santo” (1999, p. 75-93), insiste em que “crer compreende alguns processos intelectuais e um conteúdo objetivo” (1999, p. 81), em oposição direta àqueles educadores progressistas que valorizam processos acima de conhecimento, sentimentos acima de fatos e socialização acima de verdade (1999, p. 81) e assinala que, mesmo em meio a um contexto de um mundo pluralista e relativista, os cristãos precisam reaprender a pensar em termos de verdade e de doutrina e não em termos de experiência ou vontade ou interesses particulares.

Ele lembra, então, que sempre que o relativismo foi mais forte na história humana, a resposta da Igreja reformada foi o desenvolvimento do que seria chamado de uma educação de artes liberais. Foi o que aconteceu quando filosofias ateístas e relativistas típicas da diversidade cultural do fim do Império Romano se refletiram na observação de Pilatos em João 18:38: “Que é a verdade?”, e a Igreja formulou uma educação liberal, sendo o termo “liberal” entendido como se segue:

O termo ‘liberal’ deriva da palavra latina ‘liberdade’. Para os gregos e romanos, uma educação ‘liberal’ era a que convinha a cidadãos livres; o mero treinamento ocupacional era para escravos. Aqueles que eram livres, em contraste, precisavam saber pensar. A igreja primitiva tomou o melhor do conhecimento clássico e combinou-o com uma visão de mundo cristã (1999, p. 83).

O resultado desse esforço foi exatamente a valorização cristã do ideal das Artes Liberais. Prossegue o autor do artigo, demonstrando o resultado desse tipo de educação clássica:

O Renascimento foi essencialmente um reavivamento da educação clássica. A Reforma começou numa universidade de artes liberais em Wittenberg e foi divulgada por eruditos clássicos tais como Melanchton, Zuínglio e Calvino. Uma vez iniciada a Reforma, a educação tornou-se uma das principais prioridades religiosas. Foram abertas escolas para ensinar aos leigos como ler a Palavra de Deus. Ministros mantiveram aulas de catecismo e pregavam sermões para explicar as verdades do pecado e da graça, e os novos ensinamentos começaram a ser refletidos em toda a cultura, na arte, música, literatura e vida social. Mais uma vez, a Igreja assumiu a tarefa de ensinar seus membros a pensar biblicamente. (VEITH, 1999, p. 84)

Assim, para o desenvolvimento acadêmico intelectual dos alunos, o modelo clássico tem sido provado pelo tempo como um dos métodos mais lógicos, ordenados, sistemáticos e eficazes para o treinamento da mente, e, apesar das ressalvas que fizemos na seção anterior e dos cuidados que precisamos ter, em geral os cristãos a tem considerado compatível com os princípios cristãos que também dão à mente um papel elevado na descoberta das verdades de Deus, na formação da pessoa, e no próprio crescimento espiritual. Desde que submissa à revelação, e dependente da iluminação do Espírito de Deus, a mente do crente pode ser muito beneficiada pelo estudo rígido da lógica e por meio de disciplinas bem estruturadas, mais do que pelos métodos relaxados, assistemáticos e relativistas da pedagogia moderna.

Na atualidade, pedagogos cristãos têm também defendido o modelo clássico propondo que os três caminhos do trivium (a gramática, a lógica e a retórica) correspondem aos três termos frequentemente utilizados no livro de Provérbios e em várias porções da Bíblia para designar as etapas de um aprendizado verdadeiro: o conhecimento, (o contato com os ensinamentos de Deus), o entendimento(a compreensão mental e os inter-relacionamentos das verdades aprendidas entre si e com o Criador), e a sabedoria(que seria a expressão prática e a aplicação do que foi conhecido e compreendido nas circunstâncias reais e complexas da vida humana. Também a defesa clássica de que se é possível conhecer antes de se compreender parece concordar com a visão bíblica de que podemos conhecer e crer nas verdades de Deus e mesmo ensiná-las às nossas pequenas crianças que ainda não podem compreendê-las, a fim de que elas possam ser futuramente compreendidas e aplicadas à vida. Outra afinidade que educadores cristãos encontram na educação clássica atual é a importância das letras e da Palavra (consequentemente de métodos tradicionais como a memorização, a repetição, a palestra, a leitura, a escrita, a fala, e a retórica) para a aquisição do conhecimento e da sabedoria, que parece ressonar em textos como Êxodo 24:3,4; Dt. 18:15-22; Salmo 119:130; Provérbios 2:6. Atualmente, é principalmente a ênfase na palavra e na leitura e na ordem das três etapas do trivium que têm caracterizado a educação clássica cristã.

Exposta esta defesa cristã de alguns métodos clássicos, é importante ressaltar que a educação cristã não pode ser estritamente clássica no sentido de trabalhar apenas o aspecto intelectual e de se perder em “loquacidade frívola” (1 Tm 1: 5), deixando-se levar pelas faltas e devaneios acadêmicos de seus fundadores idólatras. A educação cristã pode usar alguns dos métodos clássicos para alcançar o seu ideal de formar o cidadão integral do reino de Deus, mas não o ideal do cidadão romano; ela pode usar seus métodos para desenvolver a mente, mas ela vê a mente como um componente da alma juntamente com o coração e com a consciência, aspectos ignorados pelos fundadores gregos. Por isso é que o apóstolo Paulo nos adverte a não nos deixarmos levar por doutrinas falsas, pelas filosofias e vãs sutilezas, pelas discussões inúteis, pela questões e contendas de palavras de homens cuja mente é pervertida e privada da verdade (I Tm. 6:3-5), contrapondo estes erros típicos do intelectualismo pagão com o ensino segundo a piedade, que é segundo a verdade de Cristo e que concorda com uma fé sincera em Cristo, com o amor que procede de coração puro e com a boa consciência que é moldada pela santa lei de Deus. E em II Tm. 3:14-17, o apóstolo deixa claro que a verdadeira educação cristã é fundamentada nas Escrituras, que são a fonte mais útil para a educação na justiça e para preparar o crente para ser perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra. A Bíblia, não as disciplinas acadêmicas clássicas, são a marca distintiva e indispensável da educação cristã integral. E por mais ênfase que encontremos na Bíblia sobre as “palavras da verdade”, o Sábio de Eclesiastes nos adverte da vaidade das palavras, visto que “não há limites para fazer livros e que o muito estudar é enfado da carne”(Ecl.12:10-12), e que a educação mais importante é aquela que coloca o aluno face a face com Deus, para o temer e o obedecer.

A educação cristã, por ser integral, também precisa equilibrar o academicismo e a ênfase teórica típicos da educação clássica com a prática e a expressão do conhecimento adquirido através do serviço útil à sociedade e à igreja, e com a integração social e emocional saudável da criança na sua comunidade e especialmente na comunidade do pacto, sem mencionar a necessidade do treinamento físico e atlético do corpo. Contudo, a educação clássica normalmente se abstém dessas áreas, e por isso ela não pode ser vista como o todo da educação que precisamos dar às nossas crianças. Por isso, é comum vermos algumas correntes educacionais cristãs buscando integrar o ensino literário clássico com a inserção do aluno em uma atmosfera social e natural saudáveis, como ocorre com a proposta de Charlotte Mason, e de outros educadores cristãos que continuam defendendo, contra o academicismo clássico, a necessidade de uma educação mais prática e vocacional, voltada para o empreendorismo, para a formação de líderes ativos ou para o serviço caridoso e útil à comunidade.

A Educação Cristã Precisa ser Clássica?

Acho que essa é a questão mais delicada e talvez a mais importante colocada diante de nós, e tentarei respondê-la com cautela. Já vimos que a educação clássica não é necessariamente cristã, pelo contrário, é de origem pagã. Mas vimos que ela faz um trabalho excelente em desenvolver as capacidades da mente e em usar ferramentas úteis para repassar conhecimentos aos alunos, e esse é um dos objetivos primordiais da educação cristã: preparar a mente da criança para receber, assimilar e organizar o conhecimento de verdades. Por essa razão é que vemos no decorrer da história muitos teólogos e grupos de cristãos utilizando-se dos métodos clássicos na educação das crianças e sendo muito bem sucedidos na sua formação intelectual, e a exemplo dos puritanos, os quais se tornaram exemplares também na piedade e no compromisso com a verdade de Deus, o que nos mostra que a excelência acadêmica clássica e o ensino no temor do Senhor podem andar juntos.

Contudo, a frustração dos pais cristãos com os métodos pedagógicos vigentes, centrados na criança, e o sucesso atual da educação clássica, centrada no conhecimento, têm levado muitos pais cristãos a valorizar mais o ideal clássico e a buscar métodos, currículos e disciplinas clássicas para ensinar seus alunos, tanto no contexto escolar, como no ensino doméstico. Estes alunos têm, por sua vez, se destacado no meio acadêmico, com notas acima da média das escolas públicas e privadas nos testes nacionais, passando com louvor nos critérios de admissão nas universidades, e destacando-se ainda como excelentes alunos nos cursos universitários. Diante disso, muitos pais e educadores cristãos se vêem diante de um dilema: “será que, para dar uma boa formação acadêmica aos meus alunos, eu preciso matriculá-los em instituições clássicas e adotar currículos clássicos, mesmo que estas escolas, materiais e leituras não sejam cristãos?”

Felizmente existem muitas escolas clássicas cristãs hoje nos Estados Unidos e se espalhando pelo mundo, além de casas publicadoras que buscam unir esses dois ideais educacionais, além de professores e autores que têm buscado oferecer materiais didáticos cristãos nas mais diversas disciplinas, que se utilizam de métodos clássicos para ensiná-las às várias faixas etárias. Mas em países como o nosso, em que há muito pouco material educativo cristão, e em que a educação clássica é praticamente desconhecida ou depreciada pela filosofia educacional moderna como atrasada, elitista ou conteudista, esses pais e educadores despertados para essa situação têm se perguntado também: Será que os meus filhos podem ter uma boa formação cristã total sem utilizarmos dos métodos e materiais clássicos?

Com base em II Timóteo 3:14-17 eu diria que esses pais e educadores não precisam se preocupar demasiadamente com a falta de conhecimento dos métodos e materiais clássicos se eles derem a devida atenção e souberem fazer bom uso de um livro só: o clássico dos clássicos, a Escritura Sagrada. Essas letras sagradas podem tornar as pessoas que forem instruídas nela desde a infância pessoas perfeitas ou maduras em todos os sentidos, sábias para a salvação pela fé em Cristo Jesus, sábias para viver uma vida moralmente íntegra, justa e bem-estruturada; e sábias e perfeitamente habilitadas para a realização de toda boa obra. Que mais você poderia desejar para a educação de seus amados filhos e alunos?

A educadora cristã Robin Sampson, conhecida por publicações sobre currículo e sobre como preparar as crianças para os testes acadêmicos, faz um estudo muito interessante no seu livro “Quando o seu Filho Precisa Saber o Quê?, e propõe como solução para os cristãos que estão preocupados com o sucesso  acadêmico o que ela chama de uma “abordagem do coração sábio”. Denunciando as bases anti-cristãs da educação estatal no decorrer da história, ela diz que havia uma educação excelente antes mesmo dos gregos surgirem com seus famosos ideais acadêmicos: era a educação do povo de Deus no antigo testamento. Idealizada e ordenada por Deus desde o jardim do Éden, baseada nos ensinamentos da lei de Moisés, centrada não no conhecimento, mas na glória de Deus e na formação espiritual da pessoa toda, a educação judaica é apresentada a nós como um exemplo ou modelo melhor que a clássica. Suas disciplinas curriculares são para nós mais relevantes do que as artes liberais (a Bíblia, a Ciência da Criação, a História da Igreja, e a Maturidade do Caráter). Seus estágios substituem a proposta grega da gramática, lógica e retórica pelo estágios do conhecimento, entendimento e sabedoria. A variada literatura divinamente inspirada é seu livro-texto ao invés dos autores clássicos, a qual dá às crianças o conhecimento de Deus e instila no seu coração o apreço pelos heróis e ideais bíblicos ao invés dos filósofos, aventureiros e oradores da antiguidade grega. O foco da educação dos hebreus era na Palavra de Deus, na fé e na sabedoria que provém do temor do Senhor, em contraste com o foco grego na literatura, na lógica e no conhecimento que provém da filosofia humana.

Essa autora compreende que pais preocupados com os tristes resultados da educação tecno-científica, behaviorista ou romanticista atual queiram voltar ao método clássico literário, que sem dúvida era mais elevado, mais humano e mais moral, e que funcionava no sentido de ensinar o aluno a buscar o conhecimento por si só, e fazia dele um homem de letras, um erudito, um pensador, um líder. Muitos pais cristãos preferem esse ideal de homem clássico e buscam combinar a educação clássica com a Bíblia, mas ela diz que há uma solução ainda melhor: voltar ou redescobrir o modelo bíblico.

O que os gregos tiveram de melhor a oferecer à educação foram alguns princípios lógicos e ênfases literárias que os hebreus já possuíam nos Oráculos de Deus. E eles tinham muito mais. Eles tinham o temor do Senhor que é a fonte da sabedoria, um conhecimento verdadeiro, santo e útil que sempre destacou seus alunos muito acima de toda erudição pagã. Pensem em José no Egito, em Daniel na Babilônia, em Mordecai e Esdras na Pérsia, na autoridade do ensino de Jesus em comparação com todos os seus contemporâneos judeus, gregos e romanos; no poder da pregação apostólica entre os gentios. A educação ordenada por Deus para o seu povo era e é muito mais apropriada aos filhos da aliança do que uma educação nos moldes pagãos.

Não há nada de realmente importante na educação clássica que crentes estudiosos e piedosos não tenham encontrado na Palavra de Deus. Mesmo quando os ímpios em geral agem com sabedoria isso acontece porque “o seu Deus assim o instrui devidamente e o ensina… Também isto procede do Senhor dos Exércitos; ele é maravilhoso em conselho e grande em sabedoria.” (Is. 23-29). Que a educação da nova geração acontece pela transmissão dos conhecimentos adquiridos pelas gerações anteriores, isso a Bíblia nos ensina desde Êxodo e Deuteronômio, e reitera no Salmos e Provérbios. Que o estágio inicial da mente infantil prioriza a memorização: qualquer pai ou professor que já leu os primeiros capítulos de Deuteronômio e que conhece um pouco da natureza infantil sabe que é pela repetição e memorização que as leis de Deus devem ser primeiramente repassadas às crianças pequenas. Que a mente deve ser informada com ordem segundo seus estágios próprios,  isso Deus tem feito para ensinar o seu povo no decorrer da história revelada, indo do concreto ao abstrato; e lidando com o seu povo inicialmente pelos métodos visuais do tabernáculo e do culto para posteriormente revelá-los verdades mais espirituais no Novo Testamento. Que o raciocínio é importante para o conhecimento e que a pessoa é estimulada a pensar em níveis mais profundos por meio de perguntas apropriadas (dialética), Deus há muito tempo nos chama a fazer isso, como por exemplo, quando argumenta com o seu povo, por exemplo, em Isaías 1:18: “Vinde, pois, e arrazoemos, diz o Senhor…” ou em Isaías 40:13,14,21,26:

“Quem guiou o Espírito do Senhor, ou, como seu conselheiro, o ensinou? Com quem tomou ele conselho, para que lhe desse compreensão? Quem o instruiu na vereda do juízo, e lhe ensinou sabedoria, e lhe mostrou o caminho de entendimento?… Acaso, não sabeis? Porventura, não ouvis? Não vos tem sido anunciado desde o princípio? Ou não atentaste para os fundamentos da terra? … A quem, pois, me comparareis para que eu lhe seja igual? Levantai ao alto os olhos e vêde. Quem criou estas coisas?”

Amigos, nós não somos proibidos de ler e usar seletivamente os clássicos pagãos, mas por outro lado, nós não precisamos dos clássicos gregos ou modernos para educar os nossos filhos quando temos em nossas mãos o clássico dos clássicos, a fonte de todo saber, a Palavra de Deus. Um eminente professor secular de literatura recentemente afirmou que o livro mais importante para a formação total do aluno é a Bíblia. Suas histórias, poemas, provérbios e sua própria cosmovisão são indispensáveis ao fornecer ao aluno uma estrutura inicial para conhecer o seu mundo. Em outras palavras, ele estava dizendo que a Bíblia é o clássico mais importante que deveria ser explorado na educação, mesmo da perspectiva não-cristã. Outros educadores têm relacionado o declínio do ensino da Bíblia nas escolas Norte-Americanas com o seu declínio acadêmico. E é importante aqui lembrar que muitos defensores da educação clássica não priorizam a leitura da Bíblia e dos Bons Livros da Tradição Cristã, o que deveria ser prioridade para nós.

Não, a educação cristã não precisa ser clássica. Ela sempre foi superior. Ela pode ter vingado no século XVI através dos moldes clássicos, mas ela floresceu e deu frutos por ter sido, primeiramente, bíblica. Basta que ela seja bíblica, e ela será academicamente melhor do que a clássica e infinitamente superior em todos os demais aspectos. A educação cristã excelente é integral, e ela incluirá o desenvolvimento intelectual; ela ensinará a criança a buscar o conhecimento por si mesma, nas melhores fontes, a compreender as verdades de Deus em seu relacionamento uma com as outras e com Deus; ela lhe fará um mestre de letras, um hermeneuta da Palavra de Deus e de outras literaturas de qualidade, e muito mais do que isso. Esse conhecimento virá de um coração vivo e santo, e culminará numa vida piedosa e útil.

A educação cristã não precisa ser clássica. Ela pode ser melhor ainda. Você pode não ter, querido pai ou professor, muito conhecimento dos métodos gregos. Não se preocupe. Estude os métodos de ensino bíblicos, usados pelos profetas, pelos sacerdotes; os métodos usados por Cristo e por seus discípulos, e exemplifique-os para seus alunos. Você pode não ter conhecimento ou acesso aos grandes clássicos da mitologia grega, às famosas histórias de Homero, aos diálogos de Platão, às Fábulas de Esôpo ou às palestras de Cícero; não se preocupe. Conte às suas crianças a história da redenção, da criação ao apocalipse; descreva seus heróis e a obra de Deus em suas vidas; conte seus romances; memorize os provérbios de Salomão e recite ou cante os grandes poemas dos Salmos. Não há literatura mais excelente e mais ideal para o ensino na justiça do que esse livro completo, divino, santo, perfeito, verdadeiro e útil para dar sabedoria e para tornar o homem perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.

Em uma palestra educacional, o pastor e educador Kevin Swanson apresentou uma boa solução prática para os educadores cristãos clássicos: Priorizem a leitura dos mais diversos textos Bíblicos. Tendo feito isso, busquem os clássicos cristãos, ou seja, os melhores livros nos deixados pela tradição cristã: os escritos dos pais da igreja; O Livros dos Mártires, de Fox; as obras de Agostinho; as Institutas de Calvino e as obras dos reformadores; os escritos dos puritanos; dos grandes cientistas e filósofos cristãos da era moderna; as grandes biografias da História da Igreja, Horace Bonar, chegando aos clássicos mais modernos, como as obras ficcionais ou não de C.S. Lewis, de Abraham Kuyper, de Machen, de Francis Shaeffer, até a melhor literatura cristã infantil produzida na atualidade como a de Miriam Schoolmaster, Diana Kleyn, Karine Mackenzie, etc, muitas das quais já estão disponíveis em nossa língua. Tendo feito isto, selecione então algumas das melhores obras clássicas, que os especialistas calculam serem poucas, talvez menos de cem. Destas, muitas você já terá utilizado por serem cristãs; e muitas outras poderão ser descartadas pelos temas não apropriados às nossas crianças e jovens, e você terá um punhado de boas obras clássicas que poderão ser lidas com proveito pelos seus filhos ou alunos. Mas não busque esse terceiro grupo de livros sem ter antes trabalhado exaustivamente os dois primeiros. Nosso tempo com nossas crianças é pouco; devemos buscar primeiro as melhores obras concernentes ao reino de Deus e a sua justiça; e todas as demais coisas nos serão acrescentadas. Porque cremos na promessa de Isaías: “todos os vossos filhos serão ensinados do Senhor; e grande será a paz de teus filhos”.

Não tenho dito estas coisas para desestimular ninguém a conhecer os métodos e programas acadêmicos clássicos, nem para impedir que usem esse termo para descrever bons materiais didáticos cristãos ou não, muito menos para contrastar o termo com a educação cristã. Na realidade, hoje em dia o termo educação clássica tem sido usado não tanto para descrever o sistema exato da educação grega antiga, mas mais como um sinônimo de um currículo mais acadêmico, tradicional,  sistemático, tutorial, mais centrado no ensino do conteúdo do que na vontade e divertimento da criança, mais histórico e literário do que tecno-científico, que respeita as fases do desenvolvimento da mente infantil atribuindo tarefas e conteúdos apropriados a cada faixa etária, dos mais objetivos e memorizáveis para as séries menores aos mais racionais e expressivos à medida que a criança amadurece; É nesse sentido que muitas vezes uso e que continuarei a usar o termo “educação clássica”, especialmente na seção seguinte em que farei uma caracterização e relacionarei uma série de materiais teóricos, tutoriais e didáticos para os meus leitores que desejarem se aprofundar e conhecer melhor o ensino clássico, como sendo um método de ensino academicamente mais excelente do que o proposto pela pedagogia atual e cujos princípios e práticas se coadunam com muitas das leis do conhecimento e do desenvolvimento que Deus colocou na criança como uma alma pensante e um descobridor de verdades.
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