Os Deveres dos Pais – J. R. Ryle – Parte 15

XIV. Treine-os lembrando-se continuamente da influência do seu exemplo.   

Toda a sua instrução, conselho e mandamentos serão de pouco proveito se os seus filhos não tiverem o respaldo do padrão da sua própria vida. Os seus filhos nunca acreditarão que você está falando sério, e que você realmente quer que eles lhe obedeçam, quando as suas ações contradizem a sua conduta. O Bispo Tillotson fez uma sábia colocação quando disse: “Ao dar aos seus filhos uma boa instrução e um mau exemplo, é como se você estivesse apontando a eles com a sua cabeça o caminho para o céu, ao mesmo tempo em que você os pega pela mão e os guia no caminho para o inferno.”

Nós pouco sabemos sobre a força e o poder do exemplo que damos. Ninguém pode viver para si mesmo nesse mundo; nós estamos sempre influenciando aqueles que nos cercam de um modo ou de outro, seja para o bem ou para o mal, para Deus ou para o pecado. Eles veem os nossos caminhos, eles marcam a nossa conduta, eles observam o nosso comportamento e aquilo que eles nos veem praticar, isso eles podem justamente supor que é o que nós vemos como correto. E nunca, creio eu, esse exemplo fala tão poderosamente quanto no caso de pais para com os seus filhos.

Pais e mães, nunca se esqueçam de que os seus filhos aprendem mais com os olhos do que com os ouvidos. Nenhuma escola deixará marcas tão profundas no caráter das crianças do que o seu próprio lar. O melhor dos mestres não imprimirá nas suas mentes tanto quanto eles assimilarão sentados ao redor da sua lareira, com você. A imitação é um princípio muito mais forte do que a memória no caso das crianças. Aquilo que eles veem tem um efeito muito mais forte em suas mentes do que aquilo que eles ouvem de nós.

Tome cuidado, portanto, com o que você faz em frente a uma criança. É um verdadeiro provérbio o que diz: “Aquele que peca diante de uma criança, peca em dobro.” Antes, esforce-se para ser uma epístola viva de Cristo, de tal forma que a sua família o possa assim ler, e tão claramente também. Seja um exemplo de reverência pela Palavra de Deus, de reverência na oração, reverência pelos meios de graça, reverência pelo dia do Senhor. Seja um exemplo em palavras, no temperamento, na diligência, na temperança, na fé, no amor, na bondade e na humildade. Não pense que os seus filhos poderão praticar aquilo que eles não veem em você. Você é o seu modelo, e eles copiarão o que você é. O seu raciocínio e as suas palestras, os seus sábios mandamentos e o seu bom conselho, tudo isso eles podem não entender; mas eles podem entender muito bem a sua vida.

As crianças são sutis observadoras, muito ágeis em ver certos tipos de hipocrisia, muito ágeis em descobrir aquilo que você realmente pensa ou sente, muito ágeis em adotar todos os seus jeitos e opiniões. Você frequentemente verá que tal como o pai é, assim também é o filho.

Lembre-se das palavras que o conquistador César sempre dizia aos seus soldados nas batalhas: Ele não dizia “Sigam avante”, e sim: “Venham comigo”! Assim deve ser com você no treinamento dos seus filhos. Eles dificilmente aprenderão hábitos que eles veem você desprezar ou a andar em caminhos que você mesmo não anda. Aquele que prega aos seus filhos sobre algo que ele mesmo não pratica está fazendo um trabalho que não avança nunca. É como a antiga fábula da teia de Penélope, que teava o dia inteiro, para depois desfazer tudo durante a noite. Assim também, o pai que tenta treinar os seus filhos sem dar a eles um bom exemplo está construindo com uma mão e derrubando com a outra.    
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