Treine-os a um constante temor da indulgência em prazeres
Dentre tudo o que eu tenho dito, este é o ponto sobre o qual você tem a maior necessidade de estar sempre se vigiando. É natural que sejamos gentis e carinhosos com relação à nossa própria carne e sangue, mas é o excesso desta mesma gentileza e afeição que você deve temer. Cuide para que isso não lhe torne cego quanto às faltas dos seus filhos e surdo para todos os conselhos que lhe são dados sobre eles. Cuide para que isso não lhe faça passar a mão sobre a má conduta deles, ao invés de tomar para si a dor de infligir o castigo e a correção.
Eu bem sei que a punição e a correção são coisas muito desagradáveis. Nada é mais desagradável do que causar dor àqueles a quem nós amamos, ou provocar as suas lágrimas. Mas enquanto os corações são o que são, é vão supor, como regra geral, que as crianças possam ser educadas sem correção.
O termo “mimar” ou “estragar” é muito expressivo e, infelizmente, cheio de significado. Agora a maneira mais fácil de se “estragar” uma criança é deixar que ela tenha tudo sempre do seu próprio jeito – é permitir que ela faça o que é errado sem corrigi-la por causa disso. Creia em mim, não faça isso, custe o que custar a você, a menos que você queira estragar as almas dos seus filhos.
Você não pode argumentar que a Bíblia não é clara quanto a este assunto: “O que retém a vara aborrece a seu filho, mas o que o ama, cedo, o disciplina.” (Pv. 13:24) “Castiga a teu filho, enquanto há esperança, mas não te excedas a ponto de matá-lo.” (Pv. 19:18) “A estultícia está ligada ao coração da criança, mas a vara da disciplina a afastará dela.” (Pv. 22:15) “Não retires da criança a disciplina, pois, se a fustigares com a vara, não morrerá. Tu a fustigarás com a vara e livrarás a sua alma do inferno.” (Pv. 23:13-14) “A vara e a disciplina dão sabedoria, mas a criança entregue a si mesma vem a envergonhar a sua mãe.” “Corrige o teu filho, e ele te dará descanso, dará delícias à tua alma.” (Pv. 29:15,17).
Quão fortes e impetuosos são estes textos! Quão melancólico é o fato de que em muitas famílias cristãs, eles parecem ser praticamente desconhecidos! Os seus filhos precisam da repreensão, mas ela praticamente não é exercida. Eles precisam da correção, mas ela dificilmente é empregada. E ainda assim, este livro de Provérbios não é obsoleto ou inadequado para os cristãos. Ele foi dado por inspiração Divina e é útil. Ele foi dado para o nosso aprendizado, assim como as epístolas aos Romanos ou aos Efésios. Certamente, o cristão que cria os seus filhos sem dar atenção ao seu conselho, está se julgando mais sábio do que aquilo que está escrito, e erra grandemente.
Pais e mães, eu lhes digo simplesmente, se você nunca punir os seus filhos quando eles estão em falta, vocês estão fazendo a eles um grave mal. Eu lhes admoesto, esta é uma pedra na qual os santos de Deus, em todas as épocas, têm muito frequentemente naufragado. Eu me sinto obrigado a tentar persuadi-lo a ser sábio a seu tempo, e a manter isso bem claro em sua mente. Veja o caso de Eli. Os seus filhos, Hofni e Fineias, “se fizeram vis, e ele não os repreendeu”. Ele não lhes deu nada a mais do que uma repreensão mansa e morna, quando ele deveria ter lhes censurado com severidade. Em suma, ele honrou os seus filhos mais do que a Deus. E qual foi o fim destas coisas? Ele viveu para ouvir sobre a morte de ambos os seus filhos na batalha e os seus próprios cabelos brancos foram trazidos com sofrimento para a sepultura (1 Sam. 2:22-29, 3:13).
Veja, também, o caso de Davi. Quem pode ler, sem sentir dor, a história dos seus filhos e de seus pecados? O incesto de Ammon, o assassinato e a pura rebelião de Absalão, a conspiração ambiciosa de Adonias: de fato estas foram dolorosas feridas para o “homem segundo o coração de Deus” receber em sua própria casa. Mas será que não houve falta da sua parte? Temo eu que, sem dúvida, houve. Eu encontro uma pista sobre tudo isso no relato sobre Adonias em 1 Reis 1:6: “Jamais seu pai o contrariou, dizendo: Por que procedes assim?” Esta foi a base de todo o problema. Davi foi um pai super indulgente – um pai que deixava com que os seus filhos fizessem tudo do jeito que bem quisessem, e ele colheu de acordo com aquilo que tinha plantado.
Pais, eu lhes suplico, pelo bem dos seus filhos, tenha cuidado com o mimo exacerbado. Eu lhes trago à lembrança, o seu dever principal é consultar as suas reais necessidades, e não os seus próprios gostos ou desejos. O seu dever é treiná-los, e não simplesmente entretê-los; é beneficiá-los, e não simplesmente agradá-los.
Você não deve ceder à toda vontade e capricho da mente do seu filho, por mais que você o ame. Você não deve deixar que ele venha a supor que a sua vontade é tudo, e que ele só precisa desejar algo, para que isso lhe seja feito. Eu lhe suplico, não faça dos seus filhos os seus ídolos, para que o Senhor não venha a tomá-los de você, e quebrar o seu ídolo, a fim de lhe convencer da sua tolice.
Aprenda a dizer “não” aos seus filhos. Mostre a eles que você é capaz de recusar tudo aquilo que você pensa não ser bom para eles. Mostre a eles que você está pronto para punir a desobediência e que quando você fala de punição, você não está simplesmente pronto para ameaçar, mas também para executá-la. Não ameace demais. Povos ameaçados e faltas ameaçadas têm longa vida. Castigue poucas vezes, mas realmente, e com seriedade. A punição leve e frequente é, de fato, um miserável sistema.
Cuidado ao deixar que pequenas faltas passem despercebidas sob a ideia de que “é apenas uma pequena falta”. Não há nada pequeno quando o assunto é criação de filhos; tudo é importante. Pequenas ervas daninhas precisam ser arrancadas tanto quanto as outras. Deixe que elas fiquem, e elas logo ficarão grandes. Leitor, se há qualquer ponto que merece a sua atenção, creia em mim, este é um deles. Eu sei que isso lhe trará muito trabalho e preocupação. Mas se você não se der ao trabalho de disciplinar os seus filhos enquanto são jovens, eles lhe darão maior trabalho e preocupação quando estiverem mais velhos. Escolha o que você preferir.