A BÍBLIA COMO OBRA IMAGINATIVA – CLYDE S. KILBY

O trecho a seguir foi retirado e traduzido da obra: “The Christian Imagination” (RYKEN et al, 2002, p. 105), e chama atenção ao fato de que a Bíblia, ao mesmo tempo em que é um livro divinamente inspirado e a única regra de fé e prática do crente, é também uma obra literária de imenso valor, de modo que não há como ignorar o seu caráter poético e literário em tantas das suas passagens. Isso deveria ser um incentivo para a produção literária e artística, visto que aprouve a Deus – o maior e mais excelente dos Artistas – conceder um pouco destas habilidades ao homem, o qual pode e deve utilizá-las para a glória do seu Criador.

Christian Imagination
Christian Herald, 1969.


Eu quero basear o que eu tenho para dizer em três fatos que penso serem indiscutíveis:
O primeiro é que a Bíblia pertence à literatura; isto é, ela é uma obra de arte. Que diferença faz se o Livro que nós vemos como Santo vem a nós em forma literária, ao invés de vir na forma de doutrinas abstratas ou de teologia sistemática? Será que a poesia na Bíblia é um fato meramente coberto por uma decoração artística? Se nós sumarizarmos o Salmo vinte e três como declarando que Deus cuida dos seus filhos como um bom pastor cuida das suas ovelhas, será que a poesia e este sumário em prosa equivalem à mesma coisa? Se assim é, porque a poesia em primeiro lugar? Que mudança ocorre quando uma obra de poesia é transformada em obra doutrinária ou de exortação prática?
Como a divina inspiração da Bíblia se relaciona com o estranho fato de que o maior dos Salmos foi escrito na forma de um acróstico? Será que a forma de acróstico veio de Deus ou apenas do poeta?… Será que Deus inspirou a forma ou apenas o conteúdo da Bíblia? Será que a sua forma é meramente um incidente humano? Deveriam os professores Cristãos encorajar seus alunos a lerem a Bíblia como literatura?
Porque a figura da comparação ao dizer-se que um homem piedoso é como uma árvore plantada à beira dos mananciais, e a hipérbole ao dizer-se que as marés e as árvores do campo batem palmas e cantam? Deveriam tais expressões ser consideradas como meros adornos, ornamentos, como penas – e, muitas vezes, belíssimas penas – que devem ser removidas do peru antes que o seu significado calórico e real possa vir à existência?
Porque a Bíblia não é direta, expositiva e concreta? Porque estes numerosos e difíceis paradoxos se atiram diante do leitor…? Porque o frequente jogo de palavras, até mesmo na própria linguagem do nosso Senhor? Tudo isto sugere o caráter literário da Bíblia.
O segundo fato indisputável é que, desde que um – e talvez o maior – dos ingredientes da literatura é a imaginação, nós precisamos dizer que a Bíblia é um livro imaginativo. Não há literatura sem imaginação – forte, honesta, e muitas vezes ousada imaginação.
O terceiro fato indisputável é que o maior de todos os artistas, o maior Imaginador de todos, é Aquele que aparece na abertura do livro de Gênesis. Estética tem a ver com forma, design, harmonia, beleza. Talvez a palavra-chave seja “forma”. Agora a Terra, diz Gênesis, estava sem forma. Deus moldou e deu forma à criação – a luz e as trevas, os céus, as abundantes águas, a variada fauna e flora… E nos é dito que Ele olhou para cada coisa que Ele havia moldado e viu que era bom. E quanto ao todo, Ele viu que era “muito bom”. Mesmo após a queda do homem, a Bíblia ainda trata a natureza como bela, visto que tem a Deus como o seu criador e mantenedor… Deus não julgou, como muitos de nós, que a estética seja meramente uma futilidade para tempos ociosos. 
Post criado 133

Um comentário sobre “A BÍBLIA COMO OBRA IMAGINATIVA – CLYDE S. KILBY

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Posts Relacionados

Comece a digitar sua pesquisa acima e pressione Enter para pesquisar. Pressione ESC para cancelar.

De volta ao topo

Descubra mais sobre Maçãs de Ouro na Árvore da Vida

Assine agora mesmo para continuar lendo e ter acesso ao arquivo completo.

Continue reading